quinta-feira, 16 de junho de 2011

Eddie Veder - Ukulele Songs

Esqueça tudo sobre Pearl Jam. É a melhor forma de diminuir a estranheza na primeira vez em que ouvir 'Ukulele Songs', de Eddie Veder. Parece mais uma gravação demo de uma solitária noite de luau no hawaii; fosse em português seria sucesso garantido nas praias do país.
A propósito, ukulele é um instrumento havaiano de 4 cordas, lembra um cavaquinho; e é praticamente só na companhia dele que as músicas são executadas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Germano Meneghel

Bloco Olodum, ano 2000
Faleceu ontem um cantor que me deu muita, mas muita alegria: Germano Meneghel, vocalista do Olodum.
Meus primeiros anos de carnaval em Salvador foram em parte motivados por suas interpretações de 'Nossa Gente' e 'Vem Meu Amor', do cd A Música do Olodum, de 1992. Também participou ativamente naquele que considero o melhor disco de música autenticamente baiana: O Movimento, um libelo do então recente samba-reggae, dando voz a 'Mel Mulher' e 'Alegria Geral'.
Germano não era um cantor excepcional, mas tinha ritmo, swing e conseguia manter a expressão da raiz afro, típica da banda; puxava o bloco com alegria e descontração, principalmente às sextas-feiras de carnaval, quando a bateria vai atrás do trio e não em cima.
Nas últimas vezes em que o vi pessoalmente, e isso já faz um certo tempo, já aparentava não estar com a saúde em dia. Uma pena.
Quando encontrar com Neguinho do Samba lá em cima, vai ser uma festa!

Ouça: Germano Meneghel

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Temperança

"Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo, pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.

Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente de o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida do entendimento retrospectivo...

E a luxúria única de já não ter esperanças?"


No 123º aniversário de Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Florence and the Machine - Lungs

É sempre bom passar por coisas novas. Não necessariamente gostar, mas conhecer.
Quando ouvi Florence + the Machine imediatamente lembrei do Beirut, achei o som bem semalhante, mas isso é absolutamente pessoal. Talvez a semelhança não esteja propriamente no som mas na sensação que as músicas proporcionaram, frutos de interpretações, instrumentos e arranjos pouco comuns.
Essa cantora tem um modo irreverente de cantar, com um jeitão meio hippie e ao mesmo tempo um tom etéreo, a caminho da new age. Às vezes com intensidade, noutras com descaso.
É muito fácil detestar 'Lungs', e pelos mesmos motivos que se tem para gostar, mas é bom ter algo para fugir do som massificado das rádios, ou variar um pouco do que já se tem, por maior que seja sua coleção de músicas.
Talvez voce já tenha ouvido um trecho de 'Dog Days Are Over'. Provavelmente não.
O cd todo não encanta, oscila e fica um pouco cansativo. Mas 'Lungs' tem bons momentos, como em 'Howl',  'You've Got the Love' e principalmente 'Girl with One Eye'.

Ouça: Florence + the Machine Fighters

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Foo Fighters - Wasting Light

Muito bom o novo cd do Foo FightersWasting Light. Não é comum uma banda de rock voltar com força sem querer parecer moderna ou sua antítese, ficar repetindo fórmulas.
O último cd de estúdio da banda tinha sido Echoes, Silence, Patience & Grace, de 2007.
Parece que esse recesso foi inspirador. O resultado é um rock direto, intenso; os arranjos mostram uma banda com experiência de veteranos e rebeldia de adolescentes.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sade - The Ultimate Collection

Gosto muito de Sade. Sua voz suave, seu estilo clean... recorro às suas músicas sempre que não lembro de algo adequado para escutar.
Suas discografia, 5 cds fora o gravado ao vivo, tem ótimas canções que fizeram sucesso como Smooth Operator, e outras ainda melhores, Kiss of Life, King of Sorrow, By Your Side, Cherish e No Ordinary Love. Verdade que também tem muita coisa arrastada e chata, essa coletânea serve justamente a quem não tem muita paciência.

The Ultimate Collection traz canções de todas as fases da cantora, de  seu primeiro album Diamond Life (1984), até Soldier of Love, de 2010.
Não existe coletânea perfeita, que agrade a todos. Sempre fica uma ou outra música que alguém acha que poderia integrar ou estar fora da lista. A injustiçada nesse caso é Lovers Rock, que inclusive dá título a um de seus cds. As demais mencionadas acima estão todas aí.
São 29 músicas, incluindo duas versões remix(?), um exagero até mesmo pra uma coletânea, dá pra formar um ótimo playlist com metade disso.
Lançamento de album com Ultimate no nome dá a entender o fim da carreira. Tomara que não.

Ouça: Sade - Ultimate Collection

sábado, 14 de maio de 2011

Bossa n' Marley

No aniversário de 30 anos da morte de Bob Marley, um jeito diferente de ouvi-lo.
Os puristas devem ter detestado a idéia: transformar clássicos do reggae em lounge.  Seja como for, nesse cd de 2005, o resultado ficou bem acima do esperado para albuns de coletânea de regravações, excluindo o excesso de sussuros em algumas faixas, que não chega a comprometer. Ficou bem melhor que as versões Bossa n' Stones ou Bossa n' Roses, ambas uma reunião de canções pasteurizadas e sem graça. Bem verdade que o reggae tem mesmo mais afinidade com o lounge e a bossa que o rock.
Pode ser trilha sonora de elevador, mas também cai muito bem num dia calmo e ensolarado.

Ouça: Amazonics - Redemption Song

terça-feira, 3 de maio de 2011

Paula Fernandes - Ao Vivo

Uma mulher fazer sucesso no universo sertanejo, sem que seja na figura de musa, seria tão improvável que precisava aparecer alguém como Paula Fernandes para preencher essa lacuna, com as músicas que compõe e interpreta acompanhadas de sua beleza.
(Um aparte para fazer justiça a cantora e compositora Roberta Miranda, com história mais que suficiente).

Paula Fernandes dispontou para o cenário nacional após a aparição no especial de Roberto Carlos ano passado; é bem possível que sem isso ela ainda continuasse buscando seu espaço, o que de forma alguma diminui sua qualidade e seu mérito.  Ela tem talento, compõe bem, e sua voz é única, no gênero que valoriza o tom estridente. Aliás, seu posicionamento no espectro musical é parte de seu sucesso, há algo entre o regional e o sertanejo moderno, que inclui regravações de clássicos. Tudo isso envolto num clima romântico e bucólico.

Paula Fernandes Ao Vivo, que é também DVD, é um dos mais vendidos nas lojas e mais baixados em sites. Também é destaque nas mãos dos ambulantes, esse sim sinal de popularidade.
São 17 faixas de boa música, com algumas exceções. Não entendi, por exemplo, porque o dueto com Leonardo em Tocando em Frente, a  interpretação do cantor dá dó. Seria muito melhor com o próprio autor, Almir Sater, mas talvez o apelo comercial tenha falado mais alto.
Sua versão de Costumes, de Roberto Carlos, também não acrescenta nada ao original.
No mais, é um cd bem agrádavel para quem acha que o sertanejo não precisa ser cantado em duplas.

Ouça: Paula Fernandes - Não Precisa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

U2 360º Tour

Há dois dias procuro palavras para descrever o que vi no sábado à noite e não encontro.
IMPRESSIONANTE! FANTÁSTICO! SENSACIONAL! EMOCIONANTE! São sempre coisas assim, acompanhadas do ponto de exclamação que podem traduzir o show U2 360º.

A primeira versão deste post tinha uma descrição detalhada do palco e sua estrutura monumental, o espetáculo das luzes, da perfeição do som, o repertório, a competência dos músicos, o telão que é quase um 5º integrante do grupo, etc. Tudo bobagem!
Quem viu, viu. Quem não viu não pode imaginar a sensação de estar presente em um show como esse, de uma banda como essa, onde tudo é grandioso.
Saí do show com aquela sensação de que essa é uma daquelas experiências pelas quais voce não pode passar pela vida sem ter.


quinta-feira, 17 de março de 2011

As flores e o vestido

I
Dá-me lírios, lírios, e rosas também.
Mas se não tens lírios, nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos de me dar os lírios, e também as rosas.
Basta-me a vontade que tens,
Se a tiveres,
De me dar os lírios, e as rosas também,
E terei os lírios, os melhores lírios, e as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda da tua vontade
De me dares lírios, e rosas também.

II
Usas um vestido que é uma lembrança para o meu coração.
Usou-o outrora
Alguém que me ficou lembrada sem vista.
Tudo na vida se faz por recordações.
Ama-se por memória.
Tudo é assim, mais ou menos,
O coração anda aos trambulhões.
Viver é desencontrar-se consigo mesmo.
No fim de tudo, se tiver sono, dormirei.
Mas gostava de te encontrar e que falássemos.
Estou certo que simpatizaríamos um com o outro.
Mas se não nos encontrarmos,
Guardarei o momento em que pensei que nos poderíamos encontrar.

Guardo tudo,
(Guardo as cartas que me escrevem,
Guardo até as cartas que não me escrevem —
E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair
Através dele até mim!
Enfim, tudo pode ser...
És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis —
E a minha visão de ti explode literariamente,
E deito-me para trás na praia e rio como um elemental,
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!
Fernando Pessoa