segunda-feira, 13 de junho de 2011

Temperança

"Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo, pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.

Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente de o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida do entendimento retrospectivo...

E a luxúria única de já não ter esperanças?"


No 123º aniversário de Fernando Pessoa