terça-feira, 9 de junho de 2009

A Hora

"Quando eu me for,
Por aquele caminho cuja idéia se não pode encarar de frente,
Para aquele porto que o capitão do Navio não conhece,

Seja por esta hora condigna dos tédios que tive,
Por esta hora em que talvez, há muito mais tempo do que parece,
Platão sonhando viu a idéia de Deus

Seja por esta hora que eu não sei como viver,
Em que não sei que sensações ter ou fingir que tenho,
Cujas sombras vêm de qualquer outra coisa que não as coisas,
Cuja passagem não deixa perfume nos caminhos do Olhar.

Cruza as mãos sobre o joelho, ó companheira que eu não tenho nem quero ter.
Cruza as mãos sobre o joelho e olha-me em silêncio
A esta hora em que eu não posso ver que tu me olhas,
Olha-me em silêncio e em segredo e pergunta a ti própria
— Tu que me conheces — quem eu sou..."
Fernando Pessoa