Não tenho uma idéia de mim próprio; nem aquela que consiste em uma falta de idéia de mim próprio. Sou um nômade da consciência de mim.
Vi sempre nitidamente a minha coexistência com o mundo.
Nunca senti nitidamente a minha falta de coexistir com ele.
Passo horas, às vezes, à beira do rio, meditando em vão.
A minha impaciência constantemente me quer arrancar desse sossego, e a minha inércia constantemente me detém nele.
Medito, então, em uma sonolência que se parece com a volúpia apenas como o sussurro de vento lembra vozes, na eterna insaciabilidade dos meus desejos vagos, na perene instabilidade das minhas ânsias impossíveis."
Fernando Pessoa